Publicado por: Comunicação e Imprensa | Em: 08/09/2025
Quando pensamos em ESG, raramente imaginamos o manipulador que não lava bem as mãos. Mas talvez devêssemos. Nos últimos anos, ESG (Environmental, Social and Governance) tornou-se uma prioridade estratégica para empresas de todos os setores, especialmente no setor alimentar, onde a sustentabilidade é uma exigência crescente por parte de consumidores e parceiros comerciais. No entanto, há um ponto que muitas vezes é ignorado: não há sustentabilidade real sem segurança dos alimentos. Mais do que usar menos plástico ou reduzir o consumo energético, integrar boas práticas de higiene aos pilares ESG é garantir alimentos seguros, operações responsáveis e respeito à saúde pública. Ainda assim, é comum vermos empresas que falam de metas ambientais ousadas, mas negligenciam aspectos básicos como a higienização correta, a rastreabilidade ou a formação contínua das equipes.
Este artigo publicado pela foodsafetybrazil é um convite à reflexão: como podemos, enquanto profissionais da área, alinhar práticas sustentáveis com aquilo que é a base do nosso trabalho: proteger o consumidor? À medida que as empresas avançam nos seus compromissos ESG, surgem dilemas práticos que exigem equilíbrio, bom senso e conhecimento técnico. Reduzir o consumo de água, por exemplo, é uma meta ambiental válida, mas numa fábrica de alimentos, a lavagem e higienização são etapas críticas que não podem ser comprometidas. Limpeza “mais sustentável” não pode significar limpeza menos eficaz. O mesmo se aplica ao uso de produtos químicos: minimizar o impacto ambiental é importante, mas substituições mal avaliadas podem comprometer a eficácia da desinfeção e aumentar o risco de contaminações. Outro ponto crítico é a pressão para eliminar plásticos. Ainda que seja urgente reduzir o plástico de uso único, é preciso reconhecer que algumas embalagens ou barreiras protetoras cumprem uma função essencial na segurança dos alimentos. Substituí-las sem garantir a mesma proteção microbiológica é correr um risco desnecessário — e muitas vezes invisível aos olhos de quem decide. É aqui que entra a cultura da segurança dos alimentos, um conceito que precisa de estar enraizado em todas as decisões da empresa, desde a escolha de materiais até à definição de metas de sustentabilidade. Felizmente, já existem abordagens que permitem alinhar estas duas dimensões de forma eficaz e responsável.
O Lean Hygiene surge como uma resposta prática, adaptando os princípios da filosofia lean à higienização, com foco em eficiência e segurança. O objetivo não é simplesmente reduzir etapas ou insumos, mas eliminar desperdícios — de água, tempo, energia e químicos — garantindo, ou até elevando, a eficácia higiênica. Trata-se de fazer mais com menos, de forma inteligente e segura. A escolha de produtos de limpeza também pode refletir metas ESG, desde que sejam criteriosamente avaliados. Há no mercado detergentes e desinfetantes com menor impacto ambiental — biodegradáveis, com menos toxicidade e baixo potencial de bioacumulação — mas é essencial garantir que estão validados para o contexto alimentar e que cumprem os critérios microbiológicos definidos por normas reconhecidas. A eficiência energética nos sistemas CIP (Cleaning in Place), UHT ou pasteurização é outro ponto de integração. Otimizar temperaturas, tempos de circulação e ciclos de enxágue pode reduzir o consumo energético sem comprometer a eficácia, trazendo ganhos ambientais e econômicos. Por fim, uma gestão consciente dos efluentes e resíduos sólidos provenientes dos processos de higienização é crucial. Neutralizar cargas poluentes antes da descarga, separar resíduos perigosos e identificar pontos de melhoria no pré-tratamento são práticas que contribuem para metas ambientais e demonstram compromisso com toda a cadeia alimentar. Exemplos concretos mostram ser possível alinhar sustentabilidade e segurança dos alimentos com inteligência e responsabilidade. Várias empresas têm conseguido reduzir significativamente o consumo de água durante as trocas de linha, recorrendo à padronização de procedimentos, à automação de etapas e à reavaliação crítica dos parâmetros de limpeza. Estas melhorias não só resultam em menor desperdício, como mantêm (ou até reforçam) a eficácia higiênica, validada por análises microbiológicas regulares.
Outra frente em crescimento é a circularidade nos equipamentos de proteção individual (EPI). Um exemplo é o uso de fardamento técnico reutilizável. Em vez de apostar em descartáveis, muitas organizações investem em materiais duráveis e em processos de higienização certificados, assegurando proteção e reduzindo drasticamente os resíduos gerados. Além disso, algumas empresas mais avançadas incluem indicadores ESG que contemplam segurança dos alimentos nos seus relatórios. São exemplos: métricas como consumo de água por limpeza CIP, número de não conformidades relacionadas com higiene, e até a percentagem de produtos rejeitados por falhas sanitárias. Em suma, sustentabilidade e segurança dos alimentos não são conceitos concorrentes — são aliados indispensáveis. Reduzir o impacto ambiental não pode acontecer à custa da higiene e da segurança dos alimentos, mas sim com soluções que respeitam ambos os pilares. Afinal, garantir alimentos seguros também é um ato de responsabilidade social e ambiental. Proteger a saúde pública, reduzir desperdícios, gerir recursos com consciência — tudo isso faz parte de uma abordagem ESG bem aplicada. Vale a pena rever as práticas da sua empresa à luz desta integração. A pergunta não é se é possível unir ESG e segurança dos alimentos. A pergunta é: como podemos integrar melhor hoje.
https://foodsafetybrazil.org/como-integrar-esg-as-boas-praticas-de-higiene/